terça-feira, 9 de março de 2010

Paulo, o apóstolo

Foi em Tarso, na Cilícia, um importante centro mercantil e intelectual do mundo
romano que nasceu entre os anos 5 e 10 da Era Cristã, uma criança que recebeu o
nome de Saulo. Seus pais, embora judeus, gozavam dos privilégios da cidadania
romana. Privilégios que podiam ser conseguidos pelos habitantes das províncias
de duas formas: como recompensa por serviços prestados ou pelo desembolso de
vultuosa quantia. Nos primeiros anos, ele freqüentou a Sinagoga onde aprendeu
nos textos sagrados até a aritmética. Um escravo o acompanhava todos os dias,
carregando-lhe a pasta com os utensílios escolares. Sentado ao chão, com as
pernas cruzadas, o menino Saulo ensaiou as primeiras letras, gravando-as com um
estilete de ferro sobre uma tabuinha coberta com uma camada de cera. Como a
tradição prescrevia ensinar um trabalho útil às crianças, Saulo aprendeu a
tecer pano de barraca, usando uma fazenda áspera e durável, entremeado com
pelos de cabra. Adolescente ainda seguiu para Jerusalém, onde se tornou
discípulo do grande Gamaliel, no Templo de Salomão, preparando-se para ser um
devoto rabino. Ele mesmo na Epístola aos Gálatas afirma: "... e me avantajava
no judaísmo sobre muitos da minha idade e linhagem , pelo extremo zelo às
tradições de meus pais." Ardoroso defensor de Moisés, Saulo desencadeou séria
perseguição aos homens do Caminho. E considerou seu primeiro grande triunfo
contra o Nazareno a lapidação do jovem Estêvão. Emmanuel descreve na obra
"Paulo e Estêvão", em detalhes, toda sua dor e vergonha, ao se dar conta que
Estêvão não era outro senão o irmão da sua amada noiva Abigail, que viria a
morrer 8 meses depois. É, no entanto, a caminho de Damasco, na Síria, levando
cartas que lhe autorizavam a prender outros tantos seguidores de Jesus, que
Saulo foi surpreendido, em pleno meio-dia, pela luz imensa daquele a quem
perseguia. "Saulo, Saulo, por que me persegues? ", diz-lhe a voz. Nas
entrelinhas, pode-se ler: "Por que, Saulo, se és o vaso escolhido para levar a
minha palavra a todas as gentes?" Tendo vislumbrado a luz, ele se ergue da
areia entrou na cidade e aguardando, sem comer ou beber, orando e meditando .
Ao terceiro dia, o Senhor mandou a certo judeu convertido, chamado Ananias, que
fosse ter com Paulo e impor-lhe as mãos para recobrar a vista. O Senhor garantiu
a Ananias, o qual tinha receio de encontrar-se com o grande perseguidor, que
este, quando em oração, já o tinha visto aproximar-se dele. Portanto, Ananias
obedeceu. Paulo confessou a sua fé em Jesus, recobrou a vista, e recebeu o
batismo; e daqui em diante, com a energia que o caracterizava, e com grande
espanto dos judeus, começou a pregar nas sinagogas que Jesus era o Cristo,
Filho de Deus vivo, 9 10-22. Tal é a narrativa da conversão de Saulo de
Tarso.Começou para Saulo a jornada de trabalho e o calvário das dores. Após o
exílio de 3 anos, no deserto de Dan, ele retornou para pregar a Boa Nova.
Aquele Jesus a quem tanto perseguira na pessoa dos seus seguidores, tornou-se
seu Senhor. Quando empreendeu a viagem a Damasco ele era o orgulhoso Saulo,
cujo nome significa aquele a quem se pede, solicita algo, orgulhoso. Ao se
erguer, após a queda do cavalo e a visão extraordinária do Cristo, ele se
ergueu transformado. Era o escravo. "Que queres que eu faça, Senhor?", é o que
roga. Por isso mesmo, haveria de trocar seu nome para Paulo, posteriormente,
que significa modesto, pequeno, humilde. Pode-se dividir o seu apostolado em
três grandes viagens. Na primeira, partindo de Antioquia com Barnabé e Marcos,
foi à ilha de Chipre, depois à Panfília e à Pisídia. Deixou núcleos implantados
em Perge, Antioquia da Pisídia, Icônio, Listra e Derme, retornando a Jerusalém.
Na segunda grande viagem, em companhia de Silas e Timóteo, atravessou a pé toda
a Ásia menor, e , com Lucas chegou até a Macedônia. As pequenas igrejas foram se
formando em Filipes, Tessalônica, Beréia. Ele chegou até a Grécia. Na primavera
de 53, saiu de Corinto, voltou a Jerusalém e Antioquia. Na terceira viagem
percorreu a Frígia e a Galácia. Permaneceu dois anos em Éfeso, depois regressou
à Macedônia e Corinto. Retornando a Jerusalém foi preso, remetido a Cesaréia e,
apelando para César, chegou a Roma, depois de um naufrágio na ilha de Malta.
Estima-se que ele tenha percorrido em sua longa marcha nada menos de 20.000 km
a pé, ou seja, metade do comprimento da linha do Equador. Sob a inspiração de
Jesus, tendo a servir de intermediário o próprio Estêvão, na espiritualidade,
Paulo escreveu as epístolas, cartas cheias de ternura aos companheiros das
comunidades nascentes, também carregadas de orientações: duas aos
Tessalonicenses , em Corinto, em 52-54; 1ª aos Coríntios , de Éfeso, em 57; 2ª
aos Coríntios, de Filipos, em 57; aos Gálatas e aos Romanos, de Corinto, em 57;
aos Filipenses, aos Efésios, aos Colossenses e a Filémon, de Roma, em 62; aos
Hebreus, em 63 ou 64, da Itália; 1ª a Timóteo, em 64 ou 65, a Tito em 64 ou 65,
e a 2ª a Timóteo, em 66, de Roma. Mais de uma vez foi apedrejado, açoitado,
maltratado. Padeceu fome, frio, privações. Por amor a Jesus, ele tudo aceitou e
afirmou portar no corpo "as marcas do Cristo". Decapitado, fora dos muros de
Roma, no ano de 67, por ordem do Imperador Nero.